Dor. Deve ser essa a melhor palavra. As lágrimas não param, pulsam como o sangue nas veias, no mesmo ritmo, no mesmo compasso. E dor passa a ser física. Da alma ao corpo material. No escuro ou no sol rola na cama, os dentes cerrados e o peito querendo abrir. Rasga, queima... parece que tem um algo enorme dentro que precisa sair. Pela pele, pela boca, pelos olhos. De um lado pro outro, vira, aperta, vira de novo. Dias e noites atravessados por gemidos. Raros momentos de tanto faz, quebrados pelo menor pensamento. O beijo de bom dia era uma lágrima quente envolvendo o rosto. A única música que ouvia eram os soluços, fortes, incontroláveis. A água que escorre dos olhos não tem mais gosto de sal, agora já é fel. Surrada pela vida, jogada num canto qualquer de um banheiro com quatro luzes. Tem aquilo que mastiga, e o desejo é parar, não importa como. Fazer parar. De orgulho pra raiva, pra dor, pra desespero... a confiança se esparrama sobre seus pés em pedaços de vidro, corta e sangra. Balbucia cretinices, tenta cantar e refaz silencio. Dor em estado bruto. Os lábios rachados sentem nojo de terem sido tocados. Vem toda aquela imagem na cabeça, o emaranhar das línguas e das coxas, os sabores e as texturas. E vê que nada disso é real, que não tem atrito. E precisa gritar, precisa cair do penhasco. Quer ter alguém com quem dividir o choro, mas aqueles que correm pro seu colo são os primeiros a manterem distancia da sua dor. E então, sem entender, faz-se inverno, declara-se Sibéria. Hoje está intocável. Quis escrever, as mãos tremiam. Quis fotografar, os olhos embaçavam. Quis respirar, sufucava. Do nós, daquele nós que nunca foi a gente. Beijos dados pela boca são perdidos, seus ombros doíam quando apoiava a cabeça suplicando carinho. Deles só sente enjôo, perfume de pele que dá nojo. Se a teve por qualquer momento, “que morra” implora à eternidade. Foi tua, não viste, ou negaste. Essa pele nunca mais tua, essa pele que sangra e derrama dor na cama quente...
Se alguém lhe beijasse hoje, sentiria gosto de sangue coagulando...
E a raiva passa pra estado bruto, dor bruta e abrupta.
(Trocando de pele sobre brasa ardendo. Se refazendo. E aquela de antes já não existe mais.)
Um comentário:
como assim sem ter o que fazer? o que você é escreve é lindo! todo mundo deveria fazer o fvor de ler isso aqui sempre!
:)
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