Segredo

Pareço brincar de esconder entre os totens que nos unem. Tenho algo de personagem de Clarice querendo perder o livro só pra ter o prazer de encontrá-lo novamente. Você é meu livro. Meu coisa-sem-nome por você é meu livro. Finjo me afastar, finjo não me importar, finjo esquecer... só pra depois sentir tudo de novo. Só pra fazer cara de surpresa e pensar 'pô, olha só o que você ainda me faz'. Quero me convencer que você não presta só pra depois sorrir e dizer que te confio. Quero me convencer de que não gosta de mim só pra ao primeiro afago sentir o sentido que sentir dá.

Em dias como esses eu sinto como se houvesse um grande segredo. Como se eu - caso soubesse as palavras - trouxesse o peso de uma revelação. Mas é daqueles segredos que não se explica... é preciso ver, é preciso sentir. Eu poderia - e de fato posso - encher centenas de páginas falando de cada sensação, de cada reação... mas saber é inútil. Saber é o que te resta quando não é capaz de sentir.

Conhece as evidências? eu me afasto e me defendo de você, mas depois me entrego. Faço tipo, falo coisas que eu não sou, mas depois eu nego. Mas a verdade é que eu sou louca por você... É tudo tão sentido. Me consola saber que tenho a vida e não tenho arrependimento. Não tenho um milímetro de arrependimento do primeiro choro até o que agora me embala (embora o primeiro tenha sido desesperado, sangrado, sofrido... e o de agora seja compassado, conhecido, agridoce. A ordem contrária dos nossos beijos, do primeiro ao ultimo). E tenho a vida, que se acabar amanhã será sem arrependimento, e quanto mais durar mais trará minhas certezas em sonhos. Tenho todo o tempo e todo o sentimento sem-nome do mundo deitados aqui comigo.

Eu vou te mostrar o sabor do meu segredo na saliva, quando você for homem pra isso.