Trilogia da cabeça vazia - I
Do equalizador.
Madrugada tem sempre essa tensão quase sexual. Você sabe que tá chegando a hora, depois você vê que ta caminhando pro final e que no fim de tudo a noite vai gozar o dia, sem chance de broxar. Daí sua cabeça fica dando voltas tentando chegar a uma solução pra um problema que você nem sabe qual é, e você fica tentando prolongar os olhos abertos como num prazer masoquista. Be-a-bá de madrugadas.
Você lê um livro, toma coca-cola pra ajudar a prolongar a insônia, assiste um episodio de Gilmore Girls pra curar a ressaca de ter visto Lost dublado na Globo, Fito Paez se transforma no melhor cantor do mundo e aquela falta que não passa. Não passa essa vontade louca de viver e não dormir. Não sei se você sabe, mas a vida é feita com os pensamentos presos na cama. É a noite enquanto vira de um lado pra outro que você vai tomar as decisões mais importantes da sua vida. É nessa hora, entre a direita e a esquerda, entre uma lágrima seca e outra ou uma lembrança e uma expectativa que você se torna o que (acha que) é.
Até o tudo e o todo são parceláveis.
Bendito aquele que inventou isso de viver em parcelas, com o sono - e o período antes dele - pra servir de catalisador.
Trilogia da cabeça vazia - II
Do impulsionador.
O que me fode é ter sempre que pensar em alguém antes de dormir. Mente vazia é oficina do diabo, dizia minha vó. E é mesmo, porque fico batendo na mesma tecla muda sem parar. E é toda noite. Tantas coisas pra pensar antes de dormir, um mundo todo. Mas não adianta, meu nível de produtividade está diretamente ligado aos meus níveis de feniletilamina, de adrenalina, de norepinefrina, de dopamina, de oxitocina, de serotonina e de endorfinas, resumindo: paixão. Seja de pensar, de pegar, de sonhar, do caralho a quatro. E se pensar em homem de outra é pecado, meu lugar no inferno tá com uma plaquinha me esperando.
É mais que um estado, ‘apaixonada’ em mim é um traço de personalidade, uma escolha de vida. Se não for assim, não sei ser. As lagrimas entre uma paixão e outra funcionam como equalizador. É a pausa da respiração.
Trilogia da cabeça vazia - III
Do catalisador.
Sueños de habitación, con un hotel de carretera. É, me explica bem. Que sejam lençóis velhos, gozados - no pior sentido da palavra - e de qualidade têxtil questionável, entre um posto de gasolina e outro. Pasteis de carne moída e coxinha com palito de dente, por favor. Assumo minha alma de retirante do sertão do Pará, que seja, e exijo meu metro quadrado num pau de arara. Só pra ver o chão correr debaixo dos meus pés.
Morar até os olhos acostumarem e aí buscar ir além, andar até os pés doerem. Olhar nos olhos da Santa e bela Catarina, sentir o vento do litoral. Guardar no peito o cheiro de queijo quente e protetor solar das praias do sul da Bahia. Na boca o gosto do pequi e da pamonha com queijo minas. A cosmopolidade de São Paulo e a tradição carioca. Só não se pode criar fronteiras intransponíveis. Ser paraense, goiana, paranaense, brasileira, sul americana, hispano-americana, latino-americana, cidadã do mundo.
Pra hoje resta uma hora da madrugada que já se faz dia. E nas pontas dos dedos o impulso que faz de mim planta sem raiz.
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