4 de julho de 2010

Sobre amoras, paixões e amores.

De um lado dele existe um pé de amora que insiste em jogar seus galhos pra fora de lá. Passando por ali você vê as frutinhas maduras te olhando, e a tentação cresce, você vai lá e pega uma, pega duas, coloca na boca e instantes depois estica o braço pra pegar outra. Delas algumas são mais suculentas, outras ainda estão meio verdes, as que passaram do ponto já estão no chão, e você não liga mais pra elas – só as pisa. Quando estiver satisfeito você vai retomar seu caminho... pode até ser que você goste tanto de amoras que decida comer só isso e se mude pra do lado do muro, pra baixo dos galhos, mas (mesmo se você não enjoar) vai chegar o dia em que vai acabar a temporada de amoras. Amoras são efêmeras. E se você não quiser continuar roubando do vizinho, vai ter que plantar seu próprio pé de amora. E regar. E podar. E ser paciente. Até que ele dê amoras no tempo certo. E fora de temporada continue dando sombra...


Amora é paixão, pé de amora é amor. Muitas vezes você ouve que coisas efêmeras são ruins, e se acostuma a idéia de que se você não tiver uma amoreira, colocar amoras na boca é pecado, é errado. Existe também quem tenha sido acostumado à lei do menor esforço, e passe a achar que é desnecessário se dar ao trabalho de cuidar de uma arvore, enquanto se pode pegar só os frutos. E existe, por mais raro que seja, quem não goste de amoras.

É no mínimo ingênuo tentar separar pé de amora de amora, amor de paixão. Amoras não sobrevivem longe do pé. Árvore frutífera sem frutos é estéril. Um depende do outro, se apóiam, são parte de um todo. E aguma árvore morre por dar frutos demais?

(aliás, amoras demais, se juntas, viram amor. É só repetir alto: amoramoramoramora... amor!)

Ao Rubem Alves; que acordou o pensamento em mim com uma de suas crônicas.
A eles; que pulam o muro pra que eu os coma.

A amoreira; que me deixa brincar em seus galhos desde que nasci.

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