Eu sou cheia de dizer pros outros "eu entendo, meu bem", mas quando alguém diz que me entende, eu fico com dois pés atrás, tenho vontade de gritar "entende porra nenhuma!", até que me convença de que realmente entende.
É que aprendi, dentre as poucas coisas que aprendi (e não só fiquei sabendo... porque é diferente, sabem né? mas enfim, esse é um papo futuro. Onde estava mesmo? ah, sim...), aprendi que não se sabe nada até que o saber tenha sido posto a prova. O que digo é que ninguém sabe nada se nunca tiver passado por aquilo. Todos os dias somos bombardeados com frases da espécie "Eu jamais faria..." "Eu não seria capaz de..." "Eu não viveria se..." mas a verdade é que até bater peito com a situação, ninguém sabe, ninguém entende.
Claro que temos a estupenda capacidade de imaginar, mas com isso o que temos a oferecer são suposições, não certezas. Você pode imaginar como agiria na situação x ou y, mas de acordo com as condições de temperatura e pressão você acaba agindo diferente. Você pode dizer que entende alguém, mas o que você entende são os verbos e os substantivos e as preposições e os adjetivos e tudo o mais que a pessoa usou pra tentar explicar, você não pode entender completamente ninguém. Pode sim, começar a entender.. mas o todo é irreal, porque por mais que você tenha passado por situações semelhantes, você tinha a sua vida, as suas experiencias nas costas, e não a do outro.
Se eu disser que cupuaçú é azedo, com um toque aveludado e tem um pouco de doce, você vai dizer que entendeu. Mas só colocando o cupuaçu na boca você vai entender de verdade. E pode ser que você discorde de mim e diga que não tem nada de doce, que é amargo, que é bom ou é ruim... e nenhuma das percepções vão estar erradas, porque o que é pra mim, pode não ser pra você. Recorro a este clichê pra tentar me fazer entender, ainda que eu saiba que só parando nessa mesma encruzilhada do meu pensamento, vocês poderão me entender.
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