Tarde fria de céu azul, tinha que sair pra ir devolver livros na biblioteca. Pq é assim que tem funcionado, só saio quando tenho que sair.
Nada na rua foi capaz de me deixar indiferente àqueles olhos. Ele estava ali de pé, tocando violão e sorrindo, com uma blusa de lã preta, uma calça desbotada e um all star velho. Mas isso não importa. Importam os olhos. Por um momento era como se a terra tivesse desmoronando e a única salvação fosse aquela vertigem. Foi aí que os olhares se cruzaram, por um segundo, talvez menos. Virei e continuei andando mas perdi o ar e a cabeça.
A mente trabalha rápido, eu podia me imaginar naqueles cabelos castanhos, eu podia jurar fidelidade. Caso, agora. Deu tempo pra pensar no que eu levaria comigo numa mochila se fosse viver com ele na rua. Ele tocando violão e eu vendendo rosas e escrevendo poemas e a gente transando no escuro da noite nos bancos das praças.
Caminho de volta, ver ele de volta. Olho de longe, nem é tudo isso. Cabeça baixa fazendo gracinha pra umas crianças. Tsc, quero o divórcio. E aí levanta e olha bem pra mim, como se soubesse que eu tava ali. E aí fodeu, os olhos são mesmo veneno lento. Não desvio o olhar agora, nem ele. Vou passando...
- Quer ouvir uma música, moça?
- Não tenho dinheiro (verdade, a Even nunca tem dinheiro)
- Só quero tocar uma música, se vc gostar me paga com um sorriso. É só o que eu quero.
- Tá. Me leva pra casa, te amo te amo te amo, whatafuck que homem *-*
Começa a tocar alguma coisa, a cantar alguma coisa, algumas pessoas ficam em volta e ele olha e hiptoniza. Do nada é como se aquelas covinhas dele acordassem todos os meus demônios que começam na minha cabeça um espécie de ritual, no qual eu sou a oferenda e o sacerdote. Não, não, tudo menos covinhas. Efeito dominó. Derruba tudo em mim. Não, não. Lembro de tudo. "que me deixa louco". Não sou mulher de deixar ninguém louco, só de enlouquecer. E o peito vai explodir e o sangue pára e lágrimas vem mais rápido do que se pode controlar.
- O trato era você rir, não chorar! eu canto mal assim?
- Nããão, vc canta bem. Desculpa, desculpa moço, tenho que ir...
e o caminho pra casa é longo com os olhos embaçados, e as pernas mal obedecem, e a distancia entre eu e a cama é infinita no momento em que passo da porta, e gemidos e sussuros e droga e lágrimas e toca, celular maldito, pelamor. E nada. E passa. E o sangue volta a correr e o ar volta devagar. E levanta em direção à padaria, e sorri pro porteiro, e brinca com a caixa, e pega os pães, e faz a janta.
2 comentários:
VC precisa transar um pouco!
Já pensou em pegar aguem e dar uma bem dada?
Já, definitivamente eu JÁ pensei. Mas ninguém pensou junto comigo.
hasuhuhsuahushaushua
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