Sem dúvida essa é a palavra que mais me define nos últimos meses. E não apenas preguiça de levantar cedo, estudar, limpar a casa, pagar as contas. Tenho sentido a pior preguiça de todas, a de pessoas, a de atitudes.
Tenho preguiça de gente que anda com livros espíritas embaixo do braço e sai fazendo mal aos outros. Gente que pergunta “iaiiii qq tem aprontado?”. Detesto essa palavra, deixei de usar “aprontado” no jardim de infância. Detesto responder o que tenho aprontado pra alguém que não quer realmente saber e só perguntou pra preencher a sua gigantesca falta do que fazer. Há de haver uma outra forma de pessoas sem criatividade manterem uma conversa. É muito mais difícil eu me cansar de pessoas que sabem manter um bom silêncio do que das que inventam o que falar, talvez façam isso pra ocupar um silêncio que não cessa dentro delas. Dentro de mim fervem pensamentos e palavras, mas não preciso expô-los cada vez que passam pela mente. Quietude não me assusta.
Quero não ter que sorrir pra ninguém na festa.
Quero não ter que ir a todas as festas.
Quero dizer que Prison Break e Smallville são um saco. Tom Welling não é bonito. U2 é insuportável, Bono pra mim é biscoito recheado. Jota Quest irrita cada fio de cabelo meu. Angelina Jolie é magra demais, Madre Teresa demais, desproporcional demais. Quero dizer que Lost é tão bom quanto Supernatural. Naveen Andrews é o segundo homem mais lindo do mundo. Josh Holloway o terceiro. O primeiro é o meu. Juanes é incrível. Jorge Drexler é Cult mas é cansativo. Shakira é mais mulher que a Jolie. Queen Latifah é mais legal que a Oprah. Pantera é um porre, Metallica é legal. Dinho ouro preto tem a melhor voz do Brasil. Messi tem mais talento que Kaká. Obina tem mais estrela que Eto’o. Tenho preguiça de gente que me julgou ao saber uma parcela tão insignificante do que eu penso.
Tenho preguiça de quem só lê Nora Roberts e Sidney Sheldon. De quem só lê Machado e Poe tenho mais preguiça ainda. Por favor, não cite Pessoa, Neruda ou Wilde sem nunca ter lido uma obra completa.
Preguiça de quem não perde uma balada por nada e vai ao banheiro de cinco em cinco minutos com as amigas, olhar a bunda no espelho, entupir a boca de gloss e esticar o cabelo. Preguiça de quem as valoriza.
Ouvir “Aiii não, você está muito magra, deve estar doente, é anemia, dá pra ver só de olhar” me dá mais que preguiça.
Pessoas que fazem todo tipo de maldade, e na sexta feira santa não comem carne: Deus castiga! Não, Ele não castiga. Pessoas escolhem seu caminho. Caminho errado, fim errado.
Pessoas que dão valor ao ter e não ao ser, nem ao sentir me dão preguiça...
Pessoas que fazem florzinha de esmalte na unha também me dão preguiça.
Pessoas inteligentes demais, perfeitas demais, constantes demais, me matam de preguiça.
Preguiça de quem usa a expressão “má musica”. Ter numa playlist Nothing Else Matters, Todas elas num só ser, If i were a boy, Mariposa Technicolor, Hidropônica, Todo se Transforma, No veneno, Cotidiano, Transar no Escuro, Prego, João e Maria, La Flaca, Represent e After Forever não me faz uma pessoa não crítica, nem manipulável, nem indecisa.
Ler Freud não me ajuda a entender o meu eu interior. Shakespeare e Dante não são os dois únicos autores canônicos ocidentais, Mr Bloom.
Cálculo é importante. Tão importante quanto literatura. Tenho preguiça de quem não pensa assim.
Posso gostar de Cheddar McMelt e adimirar as montanhas de Chiapas ao mesmo tempo, sou grande o suficiente pra isso. Preguiça de pessoas extremistas e intransigentes. Limites não são definidos por uma linha tênue, não há linha. Eu morro (muito) de preguiça de gente que não se permite mudar de opinião.
Preguiça de quem não se permite amar.
Preguiça de quem tem medo de ser amado.
Preguiça de quem não se entrega.
Preguiça de quem vive apenas pelas conseqüências.
Preguiça de quem não se dá ao prazer de sentir o gosto de ser intuitivo, de seguir sem porquês.
Tudo isso deve ser porque sou, em parte, uma criança que não sabe o que quer ainda, que não gosta de ervilha, não transa todo mês e não bebe até cair. Meu problema deve estar aí.
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