12 de agosto de 2011

Me arrependo, mas te juro



Não me venha com meias palavras com esse seu sorriso que não sei lidar com isso. Ficou tudo claro, eu sei. Era noite, era o vento do cerrado carregado de poeira, era o mármore sujo e portanto, eu sei. Fiquei sabendo. Duvidei como se fosse cruel demais pra aceitar, mas doce demais pra engolir. Descobrimos - não que já não soubéssemos no singular - que estávamos podres. Tínhamos passado do ponto. Éramos colheita fácil mas não estendemos a mão.

A mão que sabia abrir soutiens com a mesma leveza com a qual os colocava de volta, dando um beijo no fecho como se seus lábios fossem o cadeado.

Os números continuam na minha agenda, cada segundo continua na memória, cada almoço continua, cada caminhada continua, cada conversa, cada... Continua. Estão aqui. Mas você está mil e trezentos e tantos quilometros de nós. Ou eu estou, talvez. Com suas desculpas de jardim de infancia e seu uísque caro, me ligando e me fazendo sorrir, apesar da raiva. Isso realmente acontece? passar o momento? E se cada um tem seu momento, qual a chance de acertar o momento dos dois? Saber que um 'pra sempre' estava tão perto quanto a próxima, mas que viramos as costas pra continuar passando fome.

E como tive fome. Quantas vezes coloquei pedras de gelo na boca pra enganar o estômago, e tudo isso pra que? Pra ter mais alguns segundos de você. Eu te disse, eu disse que você era minha medida de tempo, que eu deixava tudo mais passar como num borrão pra viver da esperança de ter você mais uma vez. Eu disse antes de você desligar que eu não tinha muito, que eu não sou muito, mas tudo que tenho é seu. Convivi com o silêncio, com a vontade, com o sussurro. Me declarei como se fosse numa prece... Mas você avisou, quando a gente abre o que sente as chances são metade pra cada lado. E já tinham passado meses do nosso ponto, você já estendia os braços pro outro lado. Eu te culpei por me deixar apodrecer no chão, você me culpou por ter escondido a verdade (aquela que pra mim era tão óbvia).

E cadê você? Você prometeu, você prometeu, você prometeu. Com a boca na minha lágrima, você prometeu. É isso que você chama de mentira adulta? Por caridade, enfie sua sensatez no cu. Queria terminar mais essa carta com um eu te amo. Mas não. E deixa a vida ser. Quem sabe a semente brote.

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